AO NORTE . Associação de Produção e Animação Audiovisual

XVII ENCONTROS de CINEMA de VIANA do CASTELO


MASTERCLASS
\ Azuis ultramarinos.
O colonialismo português imaginado no cinema / Maria do Carmo Piçarra


06 de maio, Sábado, às 17h45 Teatro Municipal Sá de Miranda



Quando se afirmou a geração do Cinema Novo, quais as evidências da (im)possibilidade de um outro olhar sobre as colónias portuguesas em obras de autor censuradas e/ou proibidas? Como é que a propaganda do Estado Novo filmou o “modo português” de estar no mundo? E que revelação do colonialismo português foi feita pelo cinema usado como arma de libertação? Nesta conferência mostra-se como, durante a ditadura, Portugal “imaginou” o seu colonialismo através do cinema. Em “campo”, é feita uma análise das representações cinematográficas impostas pela propaganda dispondo-se, em “contracampo”, casos de filmes de autor proibidos. A este “campo/contracampo” é contraposto um “fora de campo” revelado através de olhares implicados nos movimentos de libertação africanos.


\ STREETS OF EARLY SORROW
de Manuel Faria de Almeida (CAMINHOS PARA A ANGÚSTIA, 1963, Inglês, 8', p/b)

Um homem percorre as ruas de Londres. Encontra-se com uma jovem no jardim mas não consegue esquecer-se das imagens e memórias de uma outra vida e de um outro amor, na África do Sul, a que o Massacre de Sharpeville pôs um fim brutal.

Realizado por Manuel Faria de Almeida na London School of Film Technique, em 1963, ganhou o primeiro prémio no Festival Cinestud de Amesterdão, para onde a escola o enviou. Chris Marker e Agnès Varda – e muito particularmente Cléo de 5 à 7 – são as influências visuais na realização do mesmo.

Após o prémio, Faria de Almeida recebeu um convite para trabalhar na Secção de Cinema das Nações Unidas e para trabalhar como assistente de realização de Tony Richardson, convites que não pôde aceitar porque a sua condição de bolseiro do Secretariado Nacional da Informação obrigou-o a regressar a Portugal para trabalhar no cinema português durante pelo menos três anos.

Streets of Early Sorrow fez o circuito dos cineclubes do Reino Unido como complemento a A Dama de Xangai, de Orson Welles, e só em 2015 foi projectado, pela primeira vez, em Portugal.


\ MONANGAMBÉ
de Sarah Maldoror(1968, Francês, 17' p/b)

Monangambé representa o desconhecimento da cultura angolana pelos portugueses e o tratamento a que os prisioneiros políticos eram sujeitos. Após uma sequência inicial em que vários homens são transportados até uma prisão, mostra a visita de uma mulher (Elisa Pestana) ao companheiro. Enquanto se tocam e abraçam, a mulher sussurra algo que faz com que o guarda (Mohamed Zinnet) os afaste e leve Matesso. Na sala do director, dominada por um retrato de Salazar, o guarda relata a situação ao superior – fala-se, com suspeita, do “fato completo” que a mulher de Matesso referiu – que manda revistar as coisas trazidas por ela. Apenas roupa e uma panela com comida. A frustração crescente do guarda é dirigida para o prisioneiro.

Durante todo o filme, e excepto quando se escutam escassos diálogos em francês, o jazz avant-garde do Art Ensembe de Chicago é dilacerante, potenciando a perturbação e as sensações de claustrofobia e desespero criadas por Maldoror.


Maria do Carmo Piçarra

Maria do Carmo Piçarra é bolseira da FCT para, no Centro de Estudos Comunicação e Sociedade (CECS), da Universidade do Minho, e no Centre for Film Aesthetics and Cultures, da Universidade de Reading, desenvolver uma investigação de pós-doutoramento sobre “Cinema Império. Portugal, França e Inglaterra, representações do império no cinema”, Entre outras publicações, é autora de Salazar vai ao cinema, em dois volumes (2006, 2011), e de Azuis ultramarinos. Propaganda e censura no cinema do Estado Novo, sobre as representações do colonialismo português nas actualidades filmadas e nos filmes censurados pela ditadura. Coordenou, com o realizador Jorge António, a trilogia Angola, o nascimento de uma nação (vol. 1, O cinema do império, 2013; vol. 2, O cinema da libertação, 2014; vol. 3, O cinema da independência). É jornalista, crítica e programadora de cinema e co-editora da Aniki – revista da Associação Portuguesa da Imagem em Movimento.


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