Uma jornada transversal entre cinema e pintura

"Atrás da Tela" é uma exposição que mergulha nas complexas inter-relações entre o cinema e a pintura, oferece uma experiência visual que une essas duas formas de expressão artística num mesmo espaço. O ponto de partida é o filme "Eu Não Sou Nada", de Edgar Pêra, uma obra que desafia os limites da narrativa ao explorar os múltiplos heterónimos de Fernando Pessoa. O filme de Pêra é uma inspiração vívida para a criação de imagens pictóricas que capturam a essência do universo pessoano de uma forma única. Utilizando imagens pré-existentes os pintores constroem representações pictóricas que ecoam a riqueza e a complexidade das ideias de Pessoa.

A exposição mergulha na estrutura do filme, destacando como Pêra lida com os códigos do cinema e incorpora elementos dos heterónimos pessoanos. Além da conexão direta com o filme, a exposição explora também os pontos de convergência mais amplos entre o cinema e a pintura ao longo da história. Desde as vanguardas do século XX até as transformações da arte contemporânea, os visitantes são guiados por um panorama fascinante das relações entre as duas formas de arte.

A constante utilização de imagens preexistentes na representação pictórica, desde a década de 80 do século XX até os dias, provoca reflexões sobre a constante invasão da multimédia e a sua influência na perceção visual. No mundo saturado de imagens digitais, a distinção entre realidade e artificialidade se torna cada vez mais ténue, "Atrás da Tela" convida o público a questionar e a explorar as interações entre arte, tecnologia e sociedade.

Por meio de uma abordagem histórica, crítica e estética, a exposição revela os seis padrões fundamentais das relações entre arte e tecnologia, desde o mimetismo até à inteligência artificial, fornecendo um contexto abrangente para compreender a dinâmica entre cinema, pintura e outras formas de expressão artística no mundo contemporâneo.

"Atrás da Tela" não apenas celebra a rica tradição da interação entre cinema e pintura, mas também lança um olhar crítico sobre o papel das tecnologias digitais na transformação da experiência visual e na construção da narrativa histórica. Em última análise, a exposição convida os espectadores a repensar a sua própria relação com as imagens e a reconhecer o poder e a complexidade da representação pictórica.

Filipe Rodrigues